O vazio da alma - a idealização como pressuposto da felicidade!

De início um prolegômeno*: em Platão a alma (eterna) esta presa ao corpo (finito), e portanto, deve se adaptar ao mesmo para “ser feliz”; ainda é dividida em 3 partes: razão (cabeça), instinto e libido (sexo). Assim, a razão deve guiar os instintos e refrear os desejos na busca da felicidade. De outra forma, Aristóteles lecionava que a alma era una e assim animava o corpo, dando-nos a vida, sensações e pensamentos, onde nosso corpo é a forma da alma. Destas concepções vieram e se desenvolveram todas as outras, desde o período medieval do cristianismo até hoje em dia...
Superado essas concepções iniciais, e não importa se vocêé platônico ou aristotélico, hoje o censo comum parece buscar outros significados ou entendimentos acerca da alma, resultando de um esvaziamento dela. Senão vejamos: longe de julgar alguém ou comportamentos, é razoável indicar indícios a esse respeito, até para nosso próprio conhecimento.
Ah esse facebook, cheio de exemplos ricamente em detalhes. Se partirmos do pressuposto que a vida é aquela que nos basta e que devemos viver sempre em função de nós mesmos e não transferindo-se ao exterior de nossos corpos o seu objetivo ou bem maior, logo devemos concluir que o ato de festejar no outro a completude de nossa alma (felicidade, que é o seu fim) acabamos por demonstrar que nossa vida mesmo, em si, não vale lá muita coisa. Explico: se a felicidade nos é materializada na necessidade sempre de um celular ultimo modelo, carro do ano, ou outras parafernalhas modernas, pouco importa a origem da alma (filosoficamente falando), o que te anima é o imediatismo do que os outros pensam da sua imagem, e se é apenas a imagem que vale, de nada importa os valores que seus pais ou credo se esforçaram em lhe ensinar a duras penas...
Mas isso nem é tudo... é comum ver pais transferindo aos filhos uma importância que é no mínimo antagonista com o na realidade gostariam de transparecer, ou seja, legam aos filhos que “são a única coisa que valem em sua vida...” ou ainda, que “sem eles não seriam nada...” (e por aí vão os exemplos equivocados de amor parental) e aí eu lhes pergunto: se a importância da sua vida é exterior a sua própria existência, como então dar/ser exemplos para a educação e construção do “eu” de um filho, que vê abertamente na rede social que a vida dos pais é reduzida a um planejamento que vem sendo construído nas costas de uma criança, que já é inundada das incertezas do mundo? Se seus próprios pais não tem a certeza da existência deles próprios, como ajudarão na formação de uma criança, já que esta vem sendo responsabilizada como única chance de felicidade e salvação/redenção do pai/mãe? #preocupado.
Pra finalizar, nesse processo de banalização do “eu” sempre em função do outro, dia destes analisávamos a necessidade de que para ser feliz faz-se necessário a cadeira ao lado estar preenchida por alguém que faça o par “amor (nem que provisório) da minha vida”... e acabamos por concluir novamente com o exemplo acima, ou seja, se para ser (ou retornar) feliz é necessário aquele monte de comentários em sua timeline deste tipo (“que bom que estão juntos”, “fico feliz por vocês”, “vida que segue”...) ou alguém que preencha todos os desejos ou idealização que você provavelmente nunca terá/será, resta claro que “há algo de errado (bem mais que) no Reino da Dinamarca..”.

Desta forma fica claro que a alma, seja finita ou eterna,  nunca será preenchida por mais que a ostentação ou frustração que é desejada sempre em vista daquilo que o outro tem ou busca, ou seja, não vivemos para nós mesmos, mais sim sempre em função de outrem..., sequer somos nós mesmos!

*: Prolegômeno ou prolegómeno (prolegômena plural, prolegomenon - singular) é um termo literário derivado de um particípio grego que significa “as coisas que são ditas antes”. O termo prolegômeno tem sido usado como introdução (ou prefácio) a um estudo mais particular de qualquer ciência.

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