Problema epistemológico #3 – o “même” e o arquétipo!

Longe de soar como uma aula de psicologia Jungiana (leia-se “Yunguiana”), mas dias desses atrás me peguei pensando, “cá com meus botões”, que os “mêmes” que proliferam pela internê seriam algo muito próximo (e guardadas as devidas proporções) aos arquétipos Junguianos... bóra entender:
Bem popularesco, “arquétipos” seriam ideias que trazemos dentro de nós, de modo universal e hereditário, que organizariam a bagunça que é nosso inconsciente, ou seja, eles seriam modelos de personalidade que mediariam a interpretação de nossas ideias e sua relação com a realidade. Podemos dizer que seria nossa consciência assimilando o mundo exterior (a ela), apreendido pelos sentidos, ou ainda, traduzindo-o em realidade para nosso mundo interior. Para Jung (ops, leia-se novamente “Yung”), que bebera da fonte de Kant ao tentar mesclar racionalismo e empirismo, ou seja, razão e experiência, os arquétipos seriam tentativa de explicar as estruturas da personalidade, e fariam parte de um inconsciente coletivo, ou seja, nosso inconsciente individual resultaria de uma experiência ancestral de nossa espécie, seria algo como o ar, que existindo em tolo lugar não pertence a ninguém... Um banco de dados carregados em nossa memória tão logo nascemos (#loading).
Assim, os “mêmes” de hoje em dia se espalham com tamanha rapidez pela internet que, quando vemos, parece algo que dificilmente se saberá a origem, mas que inconscientemente faz parte do nosso dia a dia, transformando-se assim em verdadeiro arquétipo pós-jung. Ainda em Jung, ele elencava 4 grandes arquétipos (dentre uma grande quantidade ainda de possibilidades): o do self, o da sombra, o da anima/animus e o da persona.
Resumidamente, o arquétipo do self é quase que premonitório aos efeitos do conhecido “self facebookiano”, seria a união de nosso consciente e inconsciente, sendo o principal à medida que resumiria nossa personalidade e individualidade; a sombra seria o centro de nosso inconsciente, que guarda nossos desejos, memórias e experiências, inclusive as reprimidas. Por ser algo inferior ou negligenciado de nossa personalidade, a sombra seria o que limita a atuação do nosso consciente, ou seja, saindo da sombra vamos adquirindo consciência de nós mesmos; o anima/animus representa a parte sexual de cada indivíduo, a medida em que uma mulher define a si mesma em termos femininos, seu animus vai incluir aquelas tendências e experiências dissociadas que ela definiu como masculinas, e vice-versa, onde sua combinação geraria nosso “verdadeiro self” e  representaria a conclusão, unificação e integridade de nossa personalidade. Tendeu? Espero que sim...
Voltando aos “mêmes”, eles teriam sido criados nos idos de ’70 ao descrever a existência de um gene egoísta (o “même”) que segundo a teoria do criador (Richard Dawkins) seria capaz de transmitir tamanha informação cultural aos indivíduos, distribuídos de forma orgânica e reutilizados para explicar ou estabilizar o entendimento acerca de algo, e hoje são utilizados até pra vender refrigerante...

Vamos enfim aonde eu queria chegar: como Jung não teve condições de explicar semelhanças entre religiões em diferentes partes do mundo (muito antes da internet e Correios, sito era mitológica e tal), os arquétipos vieram, através da ocorrência do inconsciente coletivo dar validade a essas semelhanças, bem como os “mêmes” agora, modernosamente, justificando também coletiva ou viralmente as opiniões, conceitos ou comportamentos que estão na moda, seja por meio de frase (Forever Alone) ou imagem (Trollface), e que tão logo nem nossa cultura pop será capaz de identificar a sua gênese, apenas a continuará usando-a, aleatoriamente (palavra que para mim hoje já é um “même” em si), como espécie de arquétipo moderno, uma ocorrência de um novo inconsciente da rede social coletiva.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

DIÁRIO FILOSÓFICO PEDAGÓGICO #03