JUVENTUDE NENHUMA – loccus existencial

 

Se se quiséssemos traçar um novo paradigma da juventude atual - ainda que fugíssemos da armadilha da normalização - resta um precário endereço existencial: juventude nenhuma. Em meio a depreciação da linguagem (dialetos e música), da atuação da microfísica do poder (poder por todo lado – sic, na mídia que o jovem idolatra e tem como primazia do mundo), da medicalização e normalização das diferenças, da institucionalização da violência, e da espetacularização dos prazeres, é previsível como consequência cartesiana uma crescente infelicidade clandestina, que aproxima a violência aos costumes da sociedade atual, com requintes de ethos existencial juvenil, decorando as paredes do quarto ou sentimentos mais profundos ao travesseiro.

Não existe uma fórmula pra entender – e saber como proceder com - esse fenômeno, mas mostra-se possível uma compreensão (à partir do que aparece – e não do que se advinha, mistifica ou diagnostica) por aproximação do outro, das singularidades existenciais (modos de ser). Vou dizer novamente pra dar mais ênfase: o que o jovem faz (ouve, dança, aprende, joga, etc), sente ou pensa, pode vez ou outra se confundir com a sua essência. Essa é a regra número 1 da filosofia que tanto depreciam: separar a aparência da essência – e os jovens não dão conta desse trabalho hercúleo. Mas, continuando, resta uma tentativa última de qualificar um discurso existencial do ‘lugar nenhum’ do qual uma massa de jovens se encaminha, e quiçá, traçar novas rotas existenciais que minimizem o vazio juvenil existencial.

Não procuremos nas leis, bulas ou normas oficiais como decifrar a inquietude juvenil. É mister fazer uma historicidade (buscar o ‘ser’ em seu contexto existencial) da sociedade local ante as transformações que a realidade produz e como o jovem está nela inserido (o que ele faz, como sente e/ou se expressa – meu verbete novo: coneckethos = vida/ethos/modo de ser influenciado pela conectividade). Assim, talvez, ao localizar desajustes ou inquietudes, em meio a tentativa de per si de coesão social, possamos compreender como proceder ou ajudar a construir um discurso existencial que localize e acolha minimamente o espírito juvenil, compreendendo-o e acalmando-o (sem interpretá-lo, medicá-lo, estereotipá-lo ou usurpá-lo) e possibilitando ainda a manutenção de sua característica secular: resistência e transformação!

Ainda há tempo, não há tempo perdido!

(to be continued)

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