JUVENTUDE NENHUMA  A NÃO-RAZÃO


 

A intervenção ‘sempre atenta’ dos pais pode revelar uma fragmentação, inocorrência ou um atraso da habilidade de reflexão dos jovens ante ao surgimento da situação-problema. Explico:

Se atente que, se a criança ao não ter o que fazer (e as vezes ela nem sabe que não terá o que fazer), desde muito cedo, recebe dos pais o alento antes do choro, o brinquedo antes de pedir, ou seja, sob o chavão do ‘não vai faltar nada pro meu filho’, ou ‘tudo o que eu não tive, meu filho terá’, ocorre que que acabamos por minar o querer espontâneo, ao mesmo tempo em que ceifamos a possibilidade de questionar o que falta naquele microcosmo infantil e a possibilidade de conviver com o vazio e suas possibilidades. Assim, a criança que nunca soube o que lhe falta(va) vai imaginar que o cosmo adolescente (e depois adulto) é um reflexo-grande do seu mundo do faz de conta infantil. Ou seja, o jovem-adolescente não tem como buscar nas suas matrizes históricas uma tentativa de construção de uma ética própria, singular, pois usou sempre a ética dos pais, da religião, e quando ele se vê sozinho na adolescência (momento impar da manifestação do ser-ethos, não desenvolvido anteriormente), lhe falta o ‘conhece-te a ti mesmo’, não o ensinado por Sócrates, mas aquele que surge na solidão e em tempos do fazer nada infantil.

A ausência de uma ética, por mais frugal que seja, revela ao jovem-adolescente que ele talvez habite o lugar-nenhum, e ele pode se dar conta que está vazio de valores que o justifiquem socialmente, restando em seu âmago uma necessidade (quase puramente hormonal, ou até animalesca) de resistir a essa coesão social, e eis que ele se transforma. Se transforma em algo que o padrão social e a norma moral prevalente não reconhecem como sábio ou sadio. Muitas vezes, de fato não o é.

Notem que a proposta da natureza da ‘não reflexão’ oferecida inocentemente na infância, pelo meio social, é o que ele julga ter novamente, ou seja, a não existência da reflexão é o que pode qualificar ou legitimar a ‘desrazão’ de atos juvenis que não cabem no modelo ético normal que traçamos pra felicidade geral da nação. Se o jovem não tem o que agora ele quer, pois sempre teve de tudo, antes mesmo do querer, fica claro que ele precisa demonstrar tal qual ele fazia quando criança, e sempre dava certo: causar na sociedade (antes em casa, agora no mundo), exteriorizar sua resistência e capacidade de mudar as coisas.

Não percebemos que a intervenção ‘sempre atenta’ é um incentivo ao uso da não-razão, e pressupõe um paradoxo: a alegria proporcionada (antes mesmo do querer quando os pais ‘advinham o desejo’) logo pode ser destituída pela monotonia do ‘tratamento’ inventado e exteriorizado no mito do ‘rebelde sem causa’, ou até aniquilando ou exterminando (sinônimos para o ato de tirar/perder a vida) o brilho e/ou alegria pela vida, resultando no que a grosso modo é modernamente diagnosticado como depressão, isso pra se dizer o menos.

Sabemos sim, e muito bem de onde vem a desrazão de muitas ações juvenis!

To be continued


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