DIÁRIO FILOSÓFICO-PEDAGÓGICO
30/04 – terça-feira (véspera de feriado)
... nunca tive um diário pra
ordinárias coisas do dia a dia... Apesar do adiantado da idade, as considerações
filosóficas precisam de um registro, ora por questões procedimentais, ora pra surtar
em meio a mediocridade do vulto popularesco que nos cerca (ninguém em
especifico, só licença filosófica mesmo!)... Sartre (como sempre) me salvou de
um surto dias destes (também lembrei de Epicuro – Carta a Meneceu - e a
oportunidade contínua que é o filosofar e a busca da felicidade)... mas foi lendo
A naúsea[1]
que me veio a ideia desse itinerário de especulações filosóficas, espécie de
terapia pros momentos em que eu apenas suporto a eu mesmo... O que mata o
professor ou sujeito é a perda da
capacidade de estranhamento[2]
(espanto diante da coisa, distanciamento do ordinário e busca das respostas) de
Aristóteles – um ‘salve’ ao devir de Heráclito e a metamorfose de Kafka,
Nietzsche e Raul: ‘do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo’)! O
ideal pedagógico manda que não sintamos a falta do ‘conforto da caixa’[3].
Por vezes eu olho a rede social (que
os estudantes tanto vasculham) e só me resta repulsa e antipatia ao ordinário! Logo,
concluo e filosofo: o (pseudo) direito de emitir opinião publicamente sobre
dado assunto qualquer é a nova ‘terra plana’ daqueles que acham que sabem o que
é (e assim pensam que o praticam) o pensamento crítico. Tendeu né, senão, lê de
novo, e devagar!? Ademais, é pedra no sapato do filósofo, é a sopa em que
insistimos em pousar! Logo, eu e o cientista (que não precisa ser quântico ou
de foguetes) notamos que a contemporaneidade vem substituindo a ciência pela
verdade líquida (salve Baumam!), ou seja, o que a ciência fez ou anda fazendo
não tem lá qualquer importância mediante a vontade e palpite da plebe ou dos
burgueses – todos incautos ou incultos! ‘- Hoje vai ser 18 x 0 pro curintcha!’ Sim, é assim que eu processo quando ouço ‘essa
é minha opinião, (que se lasque o que diz a história, a ciência social, a
filosofia e tals)..., fique com a sua’. Sim, eu fico com a minha, cara pálida!
E fico só, nem gasto mais a saliva (a não ser em sala de aula) pra tentar
convencer os homos zappiens da sua
fugacidade... Eu tenho náusea (e não há folha de boldo que eu masque pra
suavizar) dessa ignorância gourmetizada pela ideia de que todos tem direito a uma
opinião, deveras digna da doxa grega
e leviandade sofistica!! (...) Voltando, e pra que eu não me perca no
raciocínio, a internet de fato deu voz e ouvido aos idiotas, e sobram
admiradores por essa casta de influencers e especialistas na coisa banal, e
logo o direito de opinião é jus
sperniandi de pertencimento ao lugar nenhum, ao não saber enquanto postura
de saber prático ou filosófico. Na proporção reversa vemos ali no canto, um
tanto quanto hostilizado, acuado no corner
esperando a contagem do árbritro, o aplicador do método crítico de pensamento!
Pobre coitado, pobre professor, pobre filósofo! A célebre fras ‘Pai, eles não
sabem o que dizem’ nunca foi tão atual.
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