Postagens

DIÁRIO FILOSÓFICO PEDAGÓGICO #03

  07 de maio – Aniversário de Boracéia O céu e o dia amanheceram como de costume, assim como os meus humores durante a semana, logo, atrevo-me a considerar que não estou triste... (pausa pra filosofar!)... só noto a mudança no humor quando interajo (por muito tempo) com a as coisas ou pessoas sem uma condição mínima de bom senso. Notem: sozinhos vamos muito bem, obrigado! Sinto-me confortável e burguesamente instalado em minha solitude... Cotidianamente as pessoas disseminam-se pelas ruas juntando suas tristezas solitárias em meio a luz das redes sociais refletidas em seus rostos, canseira e sono atrasado. Poucos praticam o ócio criativo (salve Domenico de Basi) pra equilibrar trabalho, estudos e vida pessoal. Me lembro que as pessoas consomem lixo o tempo todo, e acham tudo três chiq , em meio ao fast food e entregas à jato! Hoje reina um ‘ócio alienante’, uma necessidade louca de preencher o tempo livre com atividades enraizadas pela alienação cultural, ou seja, as condutas...
 DIÁRIO FILOSÓFICO-PEDAGÓGICO 30/04 – terça-feira (véspera de feriado) ... nunca tive um diário pra ordinárias coisas do dia a dia... Apesar do adiantado da idade, as considerações filosóficas precisam de um registro, ora por questões procedimentais, ora pra surtar em meio a mediocridade do vulto popularesco que nos cerca (ninguém em especifico, só licença filosófica mesmo!)... Sartre (como sempre) me salvou de um surto dias destes (também lembrei de Epicuro – Carta a Meneceu - e a oportunidade contínua que é o filosofar e a busca da felicidade)... mas foi lendo A naúsea [1] que me veio a ideia desse itinerário de especulações filosóficas, espécie de terapia pros momentos em que eu apenas suporto a eu mesmo... O que mata o professor ou   sujeito é a perda da capacidade de estranhamento [2] (espanto diante da coisa, distanciamento do ordinário e busca das respostas) de Aristóteles – um ‘salve’ ao devir de Heráclito e a metamorfose de Kafka, Nietzsche e Raul: ‘do que ter aqu...

Diário filosófico-pedagógico

DIÁRIO PEDAGÓGICO (SE NÃO FOSSE ANTES FILOSÓFICO) Prefácio - Aos que vierem ao mundo, depois de nós! Sim Brecht, ainda vivemos tempos sombrios! A arte de ensinar é aparato sofisticado ante a violência e despreparo que nos cerca, logo, não buscar o conhecimento é como o luto constante... e todo dia matam um conceito filosófico ou pedagógico! Viver deve ser (bem) mais que sonhar (e lá se vai todo ideário de vida pós morte)! Urge necessário ler, reler e repensar os clássicos, mas não temos lá todo esse tempo ou disponibilidade intelectiva para o 'conhece-te a ti mesmo' em meio as metas e calendário apertado... As poucas vozes de resistência são roucas e incomodam a prática científica de idiotização, que enterra a arte, a gramática, a filosofia e a literatura como se quisessem que isso nunca houvesse. A ideia atual de iluminação brilha até cegar Kant, e traz só incerteza e insegurança. Sobrevivemos a este inferno? Resistir talvez seja possível apenas aqui! Lá fora a ignor...
  JUVENTUDE NENHUMA – O tipo normal Houve um tempo em que adaptávamos o jovem aos meios e instituições sociais. E assim achávamos que uma ocupação ou adaptação significava integração. Foi assim na escola, igreja, trabalho, etc. Hoje uma infinidade de valores sociais, próprio das sociedades complexas – consumo desenfreado, volatividade de condutas, pluralidade de valores e falta de valores à priori – apenas disfarçam que todos vivem em espírito de rebanho, anestesiados e vorazes por golpes físicos ou de pix para um escapismo da dura realidade. As relações sociais – leia-se família, escola, rede social – são a prova da impossibilidade de se crer na condição existencial do jovem, haja vista que na mínima brecha ou fissura do cotidiano notamos que a não vigilância opera como uma válvula de escape para seus medos, frustrações e traumas, espécie de licença para a desrazão ou ausência de comportamento ético, e muitos optam então por transgredir. Desta forma, quando não agem confo...
JUVENTUDE NENHUMA   -  A   NÃO-RAZÃO   A intervenção ‘sempre atenta’ dos pais pode revelar uma fragmentação, inocorrência ou um atraso da habilidade de reflexão dos jovens ante ao surgimento da situação-problema. Explico: Se atente que, se a criança ao não ter o que fazer (e as vezes ela nem sabe que não terá o que fazer), desde muito cedo, recebe dos pais o alento antes do choro, o brinquedo antes de pedir, ou seja, sob o chavão do ‘não vai faltar nada pro meu filho’, ou ‘tudo o que eu não tive, meu filho terá’, ocorre que que acabamos por minar o querer espontâneo, ao mesmo tempo em que ceifamos a possibilidade de questionar o que falta naquele microcosmo infantil e a possibilidade de conviver com o vazio e suas possibilidades. Assim, a criança que nunca soube o que lhe falta(va) vai imaginar que o cosmo adolescente (e depois adulto) é um reflexo-grande do seu mundo do faz de conta infantil. Ou seja, o jovem-adolescente não tem como buscar nas suas matrizes ...
JUVENTUDE NENHUMA – MEA CULPA Resistência e transformação se faz necessário ante a exigência social de generalização e submissão dos comportamentos, que desde muito cedo é praxe junto ao instituto social da normalização e construção do ser juvenil que hoje vemos: pessoa nenhuma. A caneta alienista é normalizadora (capitalista ou socialista), e prescreve uma vida sem contradições (sic, normal) e obrigatoriedade em se ‘estar ocupado’ (entretido – as vezes sob a alcunha de culturalmente) o tempo todo, como se o ócio ou canseira fosse um crime, quiçá doença ou vergonha alheia. Antes se possa conviver harmoniosamente com a angústia existencial (leia-se medo do futuro, da morte – angústia filosófica), que é fortalecedora do ser, mantenedora de espírito forte e inquietante, já se institui a angústia do ‘nada fazer’, ou seja, é como se se fosse proibitivo (ou até uma condenação) às crianças e aos jovens o tempo livre . Tempo livre para o nada fazer é o tempo da construção e percepção do eu...
  JUVENTUDE NENHUMA – loccus existencial   Se se quiséssemos traçar um novo paradigma da juventude atual - ainda que fugíssemos da armadilha da normalização - resta um precário endereço existencial: juventude nenhuma. Em meio a depreciação da linguagem (dialetos e música), da atuação da microfísica do poder (poder por todo lado – sic, na mídia que o jovem idolatra e tem como primazia do mundo), da medicalização e normalização das diferenças, da institucionalização da violência, e da espetacularização dos prazeres, é previsível como consequência cartesiana uma crescente infelicidade clandestina , que aproxima a violência aos costumes da sociedade atual, com requintes de ethos existencial juvenil, decorando as paredes do quarto ou sentimentos mais profundos ao travesseiro. Não existe uma fórmula pra entender – e saber como proceder com - esse fenômeno, mas mostra-se possível uma compreensão (à partir do que aparece – e não do que se advinha, mistifica ou diagnostica) por a...